Vamos mudar o foco de nosso olhar

“Porque nós não prestamos atenção nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois o que pode ser visto dura apenas um pouco, mas o que não pode ser visto dura para sempre”. (2 Coríntios 4,18)

              Nos dias atuais, quando ligamos a TV, vemos algumas igrejas que apresentam programas com seus templos cheios. Ao parar para assistir alguns deles percebemos que a razão principal para que estejam tão lotados são os milagres que lá ocorrem.

Várias curas são anunciadas. Cegos começam ou voltam a ver.  Pessoas recebem  a cura de doenças como o câncer, por exemplo. Quem estava com dificuldade para andar, não sente mais dores em suas pernas. Até viciados em drogas são libertos de seus vícios: alcoolismo, cigarro, crack e outros mais.

Os líderes das igrejas onde ocorrem estes milagres fazem questão que as pessoas que querem testemunhá-lo, tragam exames médicos de antes e depois das curas realizadas, para que sejam comprovados perante todos os incrédulos de plantão. E sempre fazem questão de declarar que quem realizou estes milagres não foram eles, mas foi Jesus, que os utilizou como instrumento para aquela cura.

Não duvido que Deus pode estar usando estas igrejas para a manifestação de seu poder. Quem sou eu para julgar se é de Deus ou do demônio estas curas? O próprio Jesus foi questionado quando curava as pessoas. Muitos falaram que ele não era o filho de Deus, justamente porque expulsava demônios e seus milagres ocorriam no sábado, o dia sagrado para os judeus.

Temo pela vida das pessoas que vão a estas igrejas apenas por causa dos milagres. Repete-se exatamente o que aconteceu com Jesus logo após os milagres da multiplicação dos pães e peixes e, principalmente das curas que ocorreram durante o seu ministério. Por várias vezes Jesus falou para que não anunciassem aqueles milagres, pois a razão principal de sua missão era trazer a salvação para a humanidade, mas não o obedeciam, divulgavam estes milagres e iam procurá-lo assim mesmo. Porém, quando Jesus começou a confrontá-las, principalmente naquele episódio descrito em João, capítulo 6, quando revelou qual era o propósito real de sua vinda como homem, a grande maioria o abandonou.

Muitos vão a estes cultos para receber a sua benção, seu milagre, não porque a palavra proclamada os convenceu do pecado, da justiça e do juízo. Estas pessoas me lembram Tomé, um dos apóstolos de Jesus, que mencionou que só acreditaria que seu Senhor teria ressuscitado se olhasse nas cicatrizes da palma de suas mãos. Não acreditaram em Deus porque a palavra foi revelada. Acreditaram porque viram os milagres acontecerem pela televisão, por algum conhecido que acabou recebendo alguma cura, ou pela curiosidade de terem ouvido falar e foram lá pessoalmente para ver o que estava acontecendo.

Esta crença no poder milagroso de Deus cria uma relação estranha com Jesus, em que o servo acaba sendo Ele, não a pessoa que recebeu a cura. A pessoa que recebeu este milagre conheceu-o pelo poder que Ele tem para curar. E assim, busca outras graças como o livramento de suas dívidas, bênçãos em sua família, conquista de sonhos, como um emprego melhor, um carro, uma casa. Não considero que seja errado desejar e buscar estas bênçãos. Eu também desejo, e como desejo... Para mim e para todas as pessoas que conheço e não conheço.

O que é errado é as pessoas buscarem apenas as bênçãos do Senhor, mas não se interessarem em conhecer o Senhor das bênçãos. Elas se preocuparem apenas com o tempo presente, com o que representa esta vida atual, naquilo que pode ser visto ou palpável.  Não se preocuparem com o dia vindouro. Aquele dia após a nossa morte. Só que o maior milagre que Jesus nos proporcionou é justamente a ressurreição, a vida eterna. E este milagre nós ainda não o vimos, é um ato de fé naquilo que não se viu, mas do que se ouviu falar ou do que foi lido na Bíblia, porque o Espírito Santo nos convenceu desta verdade: “As Escrituras Sagradas dizem: "Eu cri e por isso falei." Pois assim nós, que temos a mesma fé em Deus, também falamos porque cremos. Pois sabemos que Deus, que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos ressuscitará com ele e nos levará, junto com vocês, até a presença dele.” (2 Coríntios 4,13-14)